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O DESAFIO

TRABALHO DESENVOLVIDO

NA COMUNIDADE DE EMAÚS DO BRASIL

PARTE 2

O DESAFIO

SUPERAR O PARADGIMA DA FALTA DE QUALIDADE DOS EXCLUÍDOS

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OS PRIMEIROS BRINQUEDOS

O início da idéia de produzir brinquedos de madeira reciclados de caixas de frutas surgiu da visão de um vendedor de rua, fazendo uma apresentação do brinquedo para um grupo de pessoas que se reuniram em sua volta.

O brinquedo realmente chamava a atenção das pessoas que por ali passavam

O patinho marionete, o começo do trabalho

Era um patinho produzido em madeira e tinha um pompom colorido no rabinho. Era muito versátil, podendo andar, se coçar, beber água, dar tchauzinho, podendo desenvolver a coordenação motora das crianças

Foi neste momento que surgiu a idéia da produzir para a rede de supermercado Sendas um brinquedo parecido com o patinho marionete, pois a imagem do foco do marketing do grupo Sendas era na época um marrequinho.

Pensando nisto, produzir um protótipo e agendei uma reunião com a direção de marketing das Sendas.

A idéia foi aprovada, e eles fizeram um pedido de 100 mil unidades , imagine como fiquei , não tinha oficina, e nenhuma condição de terceirizar esta encomenda, não tinha imaginado que o pedido poderia me deixar tonto.

Pensei em várias possibilidades, e uma delas seria de fazer uma parceria com quem já fazia as marionetes, pois no mínimo ele teria ferramentas e pessoal para desenvolver a produção.A parceria durou poucas semanas, nada acontecendo, parti então para a produção independente.

Entrei em contato com o Diretor de Emaús, Jean Yves Olichon e apresentei um projeto para dinamizar a carpintaria de Emaús que neste momento estava com pouco serviço fazendo a manutenção da comunidade.

A ideia inicial seria de ativar uma produção a partir de reciclagem de caixote de frutas, o projeto a princípio foi aceito e para acelerar a fabricação dos brinquedos, tive que adquirir algumas maquinas de carpintaria para começar a produzir, mas a primeira remessa realmente saiu da pior forma possível, percebi que o projeto não ia adiante, estava complicado pela falta de qualidade, desisti do pedido do supermercado Sendas.

Abb Pierre e o Diretor de Emaús Jean Yves Olichon, na oficina de brinquedos de Emaús

Coordenada por Luiz Jabour

Neste exato momento, sem eu perceber, aconteceu o start para um dos mais importantes aprendizado de minha vida fui desafiado a ensinar aos excluídos, que todo trabalho tem que ser feito com muita qualidade, carinho e dedicação, e se consegui-se atingi este objetivo poderia resgatar a auto-estima de cada um dos participantes da oficina, pois qualidade estava faltando principalmente dentro deles.

Primeiros brinquedos produzidos na oficina de Emaús

vejam aonde chegou a dedicação ao trabalho

Como não tinha até aquele momento, a responsabilidade de ensinar algo de valor a alguém, que estivesse nas condições de escluído, tive que ter coragem para encarar 30 pessoas que me olharam como um estranho no ninho.

Realmente da para tremer na base, e intuitivamente aconteceu o inesperado, não cobrei a participação de nenhum deles, e fui trabalhar o tempo integral sozinho, serrando, lixando, pregando e colando madeira.

Era muito estranho, passar o dia com eles me olhando trabalhar, foram duas semanas neste mesmo ritmo, na terceira semana um dos homens, creio que ficou motivado, se chegou e perguntou se poderia me ajudar a produzir os brinquedos, e assim foi atingindo a cada um deles e ao final do segundo mês, todos estavam envolvidos no trabalho.

Meu trabalho agora era orientar o desenvolvimento do serviço, deste o desmonte dos caixotes, o design das peças até o acabamento final.

Poderei numerar as várias lições que aprendi:

1°- Aprendir a olhar todos como iguais, confesso que antes de conviver com os carentes, fazia grande discriminação a eles, não os via como iguais, e sim como outra clase de seres humanos, comecei respeitá-los, pois agora sei que qualquer um pode ir ao fundo do poço se for atingido no seu ponto fraco (calcanhar de Aquiles).

2ª - Que a melhor maneira de ensinar é pelo exemplo, não precisa falar muito e nem cobrar, é sendo que se desperta a curiosidade e isto leva a mudança de comportamento em outras pessoas.

3ª- Que todos guardam dentro de si, a criança, que está sempre pronta para conhecer o novo, a descoberta da sutileza e desenvolvendo brinquedos, voltamos a conectar este nosso lado lúdico.

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Veja peças produzidas na oficina de brinquedos de Emaús

Passamos a produzir peças com o objetivo de dar uma ocupação aos homens da oficina e também a criar brinquedos para crianças que não tinham possibilidade de comprar em lojas.

O projeto inicial seria vender brinquedos bem baratos.

Produzimos muitos, e com isso a preocupação era a venda, como colocar no mercado as peças produzidas?

Era outra novidade para mim, pois os brinquedos produzidos a partir de a madeira do caixote de maçã, apesar de serem bem acabados, não tinham condições de ser vendidos em lojas, então lembrei do ambulante que vendia os marequinhos, e pensei se ele consegue vender muito bem aos transeundes, porque eu não poderei fazer o mesmo?

Várias barreiras tive que quebrar, vaidade, orgulho, vergonha, prepotência e outras coisas assim.

A minha primeira experiência foi feita a noite na cidade de Duque de Caxias, que fica perto da Comunidade de Emaús.

pois não conhecia ninquém em Caxias ainda mais a noite, fui para a estação de desembarque dos ônibus que chegam do Rio, e pela minha surpresa conseguir vender a maioria dos brinquedos que levei.

Participantes da oficina de Brinquedos da Comunidade de Emaús do Brasil

passei a fazer isto por 2 semanas, todas as noites pois de manhã estava na oficina coordenando, até quando alguém me falou da feira de gêneros aos sábados, que acontecia de manhã, seria muito boa para a venda dos brinquedos, e lá fui eu no sábado seguinte para a feira de gêneros, neste ponto tive que aprender a conversar com a fiscalização da prefeitura, pois não tinha licença e por isto não poderia estar ali vendendo.

Os brinquedos baratos fizeram o maior sucesso, e isto atrapalhou alguns feirantes, e a consequência, foi um deles vir falar comigo sobre os brinquedos, ele gostou muito, mas que eu escolhe-se outra feira, pois aquela era de alimentos,e para eu não voltar por lá, para quem sabe lê um ponto é letra, não voltei mais.

tive que achar outra alternativa, fui procurar cidades próximas, e encontrei Nova Iguaçu, mas ainda tinha muito que aprender em relação ao orgulho, não queria encontrar nenhum conhecido, pois naquela época tinha muito mais discriminação aos vendedores de rua.

Em Nova Iguaçu, fiquei um bom tempo vendendo a noite, até que conseguir sair um pouco mais cedo da oficina, e comecei a chegar a tarde para vender no chamado calçadão de Nova Iguaçu, existe um movimento de gente impressionante , e o incrível foram as vendas desenvolvidas, conseguia vender a maioria dos brinquedos que levava, isto alimentava o animo da oficina, era a prova real da aceitação do trabalho .

Os brinquedos eram vendidos bem barato, e por mais que se vendia, estava sempre no limite vermelho do banco.

Neste ínterim, aconteceu a Feira da providência, que pertence ao Banco da Providência, ligado a Aquidiocece do Rio de Janeiro, que é também o mantenedor da Comunidade de Emaús do Brasil, é considerado o maior evento no Rio de Janeiro, então decidi tentar vender alguns brinquedos na Feira da Providência, contratei mais dois profissionais de venda de rua, e lá fomos nós .

Não ficamos nem meia hora tentando vender, a segurança nos convidou a nos retirar. Fomos literalmente expulsos do evento.

Mais ou menos, uns dois meses depois da feira da Providência, a Comunidade de Emaús completaria 20 anos de existência, e a cúpula da direção do Banco da Providência compareceu a festa de aniversário.

Aproveitei para colocar todos os brinquedos que estavam prontos em exposição, alguns dias depois, recebi a notícia por intermédio do Diretor Jean Yves Olichon, que tinham feito um convite especial para que a oficina que eu estava desenvolvendo, representa-se a Comunidade de Emaús do Brasil, na Feira da Providência, e com isto entramos em uma outra etapa de nosso caminhar.